Crescimento baixo e riscos políticos são obstáculos para Brasil retomar selo de bom pagador, diz S&P
Ainda falta muito para o Brasil voltar ao status de país confiável para investimentos estrangeiros. Esse é o recado que se depreende da entrevista de Livia Honsel, analista responsável por acompanhar o país para a agência de risco S&P, ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta quinta-feira (26).
Na entrevista, Livia ressalta fatores como a reforma da Previdência e a redução do déficit fiscal, que fizeram a agência mudar de estável para positiva a perspectiva da nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do país.
No entanto, a analista cita o ainda baixo crescimento do PIB e as dificuldades na aprovação de propostas no Congresso como entraves para que a nota seja de fato elevada.
“Pensamos que foram tomadas decisões positivas, e aprovar a reforma da Previdência foi um passo importante. Esperamos crescimento um pouco mais alto para 2020 até 2022, mas, para voltar ao grau de investimento, tem que corrigir as fraquezas mais estruturais, principalmente na parte fiscal”, afirmou.
Por que isso é importante? A S&P é uma das principais agências de risco de crédito existentes hoje no mundo. Estas empresas acompanham de perto a economia de um país e fazem um diagnóstico, a fim de orientar investidores sobre a confiabilidade das aplicações.
Em 2008, o Brasil chegou à categoria BBB-, considerada “grau de investimento”, o que significa uma recomendação de que é seguro investir no país e, portanto, ajuda a atrair aportes estrangeiros. Desde 2015, quando a crise econômica chegou ao seu momento mais agudo, essa classificação foi perdida. E segundo Honsel afirmou em entrevista, ainda vai demorar para ser recuperada.
O que mais disse a analista:
- A reforma da Previdência breca o crescimento dos gastos públicos, mas ainda faltam medidas com efeito mais imediato. “Precisamos ver outras medidas no curto prazo que vão permitir reduzir essa despesa obrigatória do Brasil, salários e outros benefícios”.
- A aprovação de um projeto que preveja a autonomia jurídica e legal do Banco Central teria um peso importante.
- Declarações como a do ministro da Economia Paulo Guedes — que mencionou o AI-5, medida autoritária da ditadura militar — são preocupantes apenas quando afetam a capacidade de negociação do governo com o Congresso.
- É positivo que estados estejam buscando replicar localmente a reforma da Previdência federal. A eventual aprovação do novo pacto federativo proposto pelo governo federal seria positiva para equilibrar o sistema.