Brasileiros deportados vieram algemados dos EUA

Um grupo de aproximadamente 50 brasileiros deportados dos Estados Unidos desembarcou na noite de sexta-feira, 24, por volta às 23h30 no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, vindo da cidade de El Paso, no Texas. Todos tentaram entrar ilegalmente nos Estados Unidos, via fronteira com o México, foram detidos e estavam presos. “Nunca mais. Não tenho inimigos, mas se tivesse, não desejaria isso pra eles”, disse Renê Lima, de Paraopebas no Pará, ao desembarcar em Confins. O paraense afirma que muitos passageiros viajaram algemados, nas mãos e pés.

Famílias inteiras estavam no voo. Pais, mães e filhos. A maioria de Minas Gerais. Em alguns casos, mães e filhos. Muitos escondendo os rostos. Todos com uma pequena sacola nas mãos, ou com um plástico em que o governo dos Estados Unidos colocou objetos pessoais, como telefones. Parte estava apenas com a roupa do corpo.

“Voltei só com a Bíblia”, disse Renê, que na chegada ainda teve o plástico utilizado para os objetos trocado. Acabou tendo às mãos o telefone de um outro passageiro, e não sabia o que faria para devolver. Segundo o Renê, que é soldador, sua detenção nos Estados Unidos aconteceu há quatro meses. “Fui para a Cidade do México e, de lá, peguei outro avião para Juarez”, conta, cidade próxima a El Paso.

O soldador afirma que pulou o muro que está sendo construído pelo governo dos Estados Unidos na fronteira com o México. “Fica um coiote embaixo, que te ajuda, e outro em cima do muro que te puxa”. A “estratégia” foi confirmada por outros passageiros. “O muro só é alto próximo das cidades. Na parte mais afastada, é baixo”, disse um passageiro que não quis se identificar.

Renê diz que foi preso no dia em que chegou a Juarez e tentou atravessar a fronteira. Conta ter ficado cinco dias em uma prisão federal. “Você vai para a Corte. O juiz te dá sentença. Peguei cinco dias. Fiquei em cela com outras quatro pessoas”. Em seguida, relata o paraense, foi enviado para a imigração onde, contou, ficava em celas com 50 pessoas até ontem. Famílias com crianças ficavam em tendas. “Somos muito mal tratados nos Estados Unidos. Vou para Portugal”, disse. Renê disse que, com a ajuda de amigos, pegaria um ônibus para o Pará, onde vai organizar sua ida para a Europa.

No voo, conforme o soldador, todos os homens ou mulheres solteiras estavam com algemas nas mãos e pés. Mães com filhos, não. Isso também foi confirmado por outros passageiros. Renê contou que, durante toda a viagem, os passageiros comeram um sanduíche de mortadela e tomaram uma garrafa pequena de água.

A tripulação do avião, pago pelo governo dos EUA, era de 25 pessoas. O número maior do que o habitual para viagens internacionais é por conta de seguranças colocados no aparelho para acompanhar os deportados.

É o segundo voo com deportados brasileiros a chegar no Brasil em cerca de três meses. As deportações atuais fazem parte de novo entendimento entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, que facilita o procedimento de saída de imigrantes considerados ilegais do país. Em 26 de outubro do ano passado, um grupo de 70 brasileiros também deportados dos Estados Unidos chegou a Belo Horizonte vindo de El Paso. Um homem acusado de homicídio e que estava na lista vermelha da Interpol foi preso no desembarque e encaminhado para a Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem, na Grande Belo Horizonte.

Antes do voo de 26 de outubro do ano passado, outra deportação de número mais elevado de imigrantes brasileiros detidos nos EUA aconteceu em 28 de janeiro de 2004, quando 278 pessoas detidas no presídio de Florence, no Arizona, desembarcaram na capital no aeroporto de Confins, que serve a capital mineira. Do total, 170 eram mineiros, a grande maioria do Leste de Minas, de Governador Valadares e cidades próximas.

Ao longo das últimas décadas, Minas Gerais se transformou em um dos principais estados do Brasil com população que se arrisca em chegar aos Estados Unidos atravessando de forma irregular a fronteira do México com o país. Muitos são moradores do Leste do estado, onde chegou a ser criada uma rede dos chamados “coiotes”, que organizam e financiam a tentativa de chegada ilegal de imigrantes aos Estados Unidos.

Estadão

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