Nova York recupera águas e atrai baleias e golfinhos, mas risco de acidente preocupa
Garrafas pet, latas de todos os tamanhos, pneus e até carcaças inteiras de carros. Por anos, quem passava pelas margens do rio Bronx, no norte de Manhattan, se acostumou a ver de tudo naquilo que era praticamente um esgoto a céu aberto. Neste início de ano, porém, o que surgiu nas águas mostrou que os esforços para recuperar o rio estão no caminho: dois golfinhos, nadando nas imediações do zoológico.
O Departamento de Conservação Ambiental de Nova York (DEC) acredita que os animais tenham chegado até o local em busca de alimento. O órgão tem lançado anualmente centenas de peixes nas águas, como parte de uma ampla estratégia que engloba também a restauração da vegetação nas margens e a coleta de lixo com apoio da comunidade.
Apesar de pequeno, quando comparado ao rio Hudson e ao East river, o Bronx é o único curso de água apenas doce da cidade. Uma das prioridades do DEC é reduzir a presença de nitrogênio e favorecer a oxigenação da água —beneficiando não só os peixes, mas todo o ecossistema.
a visita dos golfinhos ao norte de Manhattan pode ser considerada algo surpreendente, a presença de baleias no sul da ilha já passou dessa categoria; um número crescente de jubartes tem sido registrado na região conhecida como Lower Bay.
A ONG Gotham Whale, dedicada a estudar os mamíferos marinhos da região, tinha avistado 101 baleias dessa espécie entre 2012 e 2018. Desde então, até o começo deste 2023, foram mais quase 200, fazendo superar a marca de 300 indivíduos registrados. “Há uma melhoria da condição das águas, principalmente do rio Hudson, que ajuda no retorno dos peixes à baía, mas também o impacto da crise climática sobre o comportamento migratório dos animais marinhos“, diz Paul Sieswerda, diretor da organização.
O Departamento de Proteção Ambiental (DEP) usa cinco indicadores para medir anualmente a qualidade da água no estado: níveis de oxigênio dissolvido, clorofila e nitrogênio, presença de bactérias específicas e transparência. Os resultados mais recentes disponíveis, de 2021, mostram que a situação na Lower Bay tem melhorado ou se mantido dentro dos parâmetros recomendados. A concentração de oxigênio dissolvido, por exemplo, chegou a 7,42 miligramas por litro, a maior medição em todas as estações do estado nos últimos três anos (o ideal, segundo o DEP, é acima de 5).
Apesar de os sinais positivos sobre a recuperação da água e do próprio aumento da população de jubartes serem comemorados pelos cientistas, a presença dos animais também gera preocupação, já que o porto de Nova York é o mais movimentado da costa leste dos EUA. “É como se tivéssemos um monte de crianças brincando no meio do trânsito de Manhattan”, compara Sieswerda. “O risco de colisão é enorme.”
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), responsável pela proteção de baleias no país, registrou 181 mortes desses animais só na costa leste nos últimos oito anos. De acordo com o órgão, que considera o número anormal, foram feitas necropsias em aproximadamente metade desses casos, e em 40% delas houve evidências de que a morte foi provocada por algum tipo de interação com o homem —como a colisão com navios.
A discussão sobre a segurança dos mamíferos ganhou contornos políticos depois que lideranças republicanas lançaram suspeitas sobre a relação entre a morte dos animais e obras de construção de fazendas marítimas para captação de energia eólica em Nova York e Nova Jersey —parte importante do projeto de modernização da matriz energética do país, proposto pelo presidente Joe Biden.
Entre dezembro e janeiro, dez baleias foram encontradas mortas na região. A NOAA não encontrou até aqui evidências que sustentem a acusação dos republicanos, mas está propondo alterações nas regras de navegação na Lower Bay, que incluem a expansão das áreas de restrição de velocidade e imposição de novos limites também para embarcações de pequeno porte.
Fonte:folha de S.Paulo