Trabalhador é resgatado de cárcere privado com marcas de agressões em Salvador; patroa, tenente da PM foi presa em flagrante
homem de 59 anos foi resgatado de cárcere privado e denunciou ter sofrido agressões da patroa, uma tenente da Polícia Militar, que atua em Salvador, na noite de quinta-feira (23), no bairro de Brotas, na capital baiana. Conforme a Polícia Civil, a mulher foi presa em flagrante.
Segundo a vítima, as agressões começaram há um ano e cinco meses. No corpo do trabalhador, que, com medo, preferiu não revelar a identidade, estão marcas de lesões nas costas, na cabeça e orelha.
“Pensei até em tirar minha vida, entendeu? Porque não estava mais aguentando aquela vida de tortura”, disse.
Conforme relatou o homem, ele era contratado para cuidar da mãe da patroa, que também mora no imóvel e é acamada. Desde janeiro, no entanto, não recebeu salários para realizar as atividades.
O trabalhador também denunciou que tinha o celular confiscado durante o expediente.
A delegada Monica Piropo, responsável pelas investigações, afirmou que a mulher chegou na delegacia sem algemas, por volta das 21h, e ficou à disposição da Justiça. Uma corrente usada para agredir homem foi apreendida
Agressões
Trabalhador é resgatado de cárcere privado com marcas de agressões em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia
Conforme denúncia da vítima, as agressões aconteciam toda vez que a patroa ficava insatisfeita com alguma atividade realizada por ele.
“Às vezes dava murro no rosto. Além do murro, pegava a corrente quase 2h da manhã e começava a jogar. Me batia na cabeça com cadeado e caia meio mundo de sangue”, contou.
“Ela usava toda a força, não era maneirado. Era com toda raiva, jogava toda a fúria e lançava naquela corrente”, acrescentou o trabalhador.
O homem afirmou que, por extinto, tentava se proteger, segurando as correntes. O ato provocava ainda mais raiva na mulher, que aumentava a intensidade da força.
“Ficava mais neurótica, mais furiosa ainda. Era uma pessoa que ficava incontrolável”, relatou.
Cárcere privado
acordo com a denúncia da vítima, que prestou depoimento na Central de Flagrantes, ainda na noite de quinta, ele conheceu a patroa há cerca de 10 anos. Durante esse período, sempre cuidou da mãe dela, mas voltava para casa após o expediente.
A situação mudou quando ela pediu para que o homem permanecesse no trabalho, cuidando da mãe dela, para que ela conseguisse fazer cursos.
O acerto inicial era que ele ficasse no imóvel por seis dias e tivesse um de folga. Os familiares do trabalhador, no entanto, contam que a vítima deixou de dar notícias e não retornou para casa nos últimos 10 dias.
Com isso, foram na casa em que ele trabalhava e descobriram as agressões.
“Vi as escoriações, orelha inchada e diversos ferimentos no corpo. Foi um momento muito complicado, pesado, né? Ele chorando, com diversos ferimentos e a filha vendo que ele estava com metade do peso, entrou em desespero, chorou”, afirmou um familiar, que também preferiu não ter a identidade revelada
advogado do trabalhador, Matheus Freitas, informou que existia um livro com atividades que a vítima deveria cumprir.
“A conduta criminosa pode ser enquadrada na redução condicional ao escravo, cárcere privado e tortura, além das lesões corporais, que são crimes de competência do Ministério Público”, explicou.
Apesar da prisão da suspeita, a filha do trabalhador revelou que teme pelo futuro da família.
“Estou muito feliz porque ele [o pai] está aqui comigo, mas não estou tranquila. Essa mulher é uma ameaça a vida de meu pai, a minha, a de minha irmã, de minha mãe”, desabafou.
“Ela tirou a cópia da chave da nossa casa, que pegou na penca de chave dele. Tem fotos minha, do meu irmão e fica dizendo que vai matar a gente”
MPT investiga
O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu, nesta sexta-feira (24), um inquérito civil para apurar os aspectos trabalhistas do caso. Conforme o órgão, nos próximos dias, deverão ser solicitadas informações à polícia.
A partir daí, devem ser convocadas testemunhas, vítima e empregadora para esclarecimentos. Só após a análise dos elementos, será avaliado o enquadramento do caso como sendo trabalho análogo à escravidão
Fonte:g1