Tenho medo de que elefantes me matem’: como mudança climática mudou comportamento animal na África
uma tarde sufocante na pequena aldeia queniana de Njoro Mata, uma agricultora inspeciona desesperadamente os danos causados por elefantes à sua pequena propriedade.
Esses animais, um símbolo do Quênia, vêm invadindo as terras de Monicah Muthike Moki no sul do país, perto do monte Kilimanjaro.
A mulher de 48 anos é mãe solo de três filhos cujo sustento depende de seu trabalho árduo plantando mandioca, milho, banana, cana-de-açúcar e manga.
Sua colheita aumentou após empregar novos métodos agrícolas introduzidos com a ajuda da Cruz Vermelha do Quênia, mas, nos últimos meses, tudo foi destruído por elefantes.
Moki diz que os animais vêm todos os dias do parque nacional de Tsavo, um dos maiores santuários do mundo, lar de cerca de 15 mil elefantes.
No local, vive cerca de 40% de toda a população de elefantes do Quênia.
Segundo ela, pecuaristas cortaram a cerca do parque para que seus bois acessassem as pastagens ali dentro, mas os elefantes atravessam na outra direção.
Em meio a anos consecutivos de chuvas fracas, os pecuaristas estão desesperados para alimentar seus animais, enquanto os elefantes começaram a vagar mais longe em busca de sustento.
Os novos padrões de comportamento dos animais são impulsionados pela escalada da crise climática e da seca no Quênia, fazendo conflitos entre animais e humanos se tornem cada vez mais frequentes.
Para Moki, o ataque de elefantes às plantações é “muito doloroso” de se ver.
Ela diz que os elefantes são “ousados” e “não têm medo”. Os animais, segundo Moki, podem vir a qualquer hora, mas geralmente ao entardecer, e atacam em grupos, em pares ou às vezes individualmente com seus filhotes.
Os elefantes comeram recentemente toda sua safra de milho, banana e mandioca.
Abrigo temporário
Se não fossem os elefantes, Moki deveria estar colhendo de cinco a seis sacos de milho de 90 kg que venderia no mercado local na cidade vizinha de Taveta por 6,5 mil xelins quenianos (R$ 236).
Mas, sem sua colheita, ela não pode alimentar sua família ou vender seus produtos para pagar a escola de sua filha de dez anos.
Os agricultores da sua aldeia também usam os sacos de milho que colhem como caução ou pagamento de taxas escolares para os seus filhos frequentarem a escola primária local.
Por sua vez, as escolas utilizam o milho para fazer as refeições das crianças.
Agora, crianças de até quatro anos são forçadas a caminhar até quatro quilômetros para almoçar antes de caminhar a mesma distância na direção oposta à tarde.
Os elefantes, os maiores animais terrestres do mundo, podem consumir 150 kg de comida por dia, e gastam até três quartos do dia comendo.
Moki explica que muitas vezes eles não deixam “nada para trás”.
Também bebem 100 litros de água por dia — inclusive em reservatórios com água que moradores recebem das autoridades locais para usar na irrigação.
Sistema de alarme caseiro
mudanças climáticas impulsionam o conflito entre humanos e elefantes devido à diminuição dos recursos hídricos e terrestres, algo que, segundo ele, só vai “piorar” no futuro.
Para Moki, esse conflito está prejudicando sua saúde mental, agravada por sua extrema falta de sono.
Ela sofre de ansiedade e ataques de pânico e teme pelo futuro de seus filhos se um elefante a matar.
“Estou com medo porque, se eu for embora”, diz ela, “quem vai cuidar deles?”
Fonte:G1