Pescadores temem prejuízo após homens serem presos por pesca ilegal em Salvador

Após dois homens serem flagrados praticando pesca ilegal com compressores de ar na Amaralina, ontem (17), pescadores afirmam que a atividade não é comum na região. Além disso, apontam que os trabalhadores que persistem no método geralmente contam com patrocínio privado.

A dupla detida foi localizada em uma operação conjunta da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (Coppa), da Polícia Militar e do Grupamento Aéreo (Graer). As guarnições tiveram como base uma denúncia anônima de que quatro embarcações estavam pescando ilegalmente na área.

A ordem de atracar foi dada pelo Graer quando os pescadores ainda estavam em alto mar, em Amaralina, mas eles foram detidos no Rio Vermelho, próximo da Colônia de Pescadores, por causa de problemas na embarcação.

Segundo a PM, eles estavam com 10 kg de pescados. Os dois foram levados para a  Central de Flagrantes, ouvidos e liberados. A carga e o barco foram apreendidos. Os alimentos serão doados para o Núcleo de Apoio ao Combate do Câncer Infantil (NACCI).

Os dois homens são pescadores da Gamboa de Baixo. Segundo os pescadores da Colônia do Rio Vermelho, onde eles foram detidos, o uso de compressores de ar não é comum entre os trabalhadores da região. A teoria deles é que os forasteiros tenham sido atraídos pela profundidade do mar aberto, ideal para uma pesca mais farta de polvo e lagosta.

O presidente da Colônia de Itapuã, Arivaldo Santana, tem 40 anos de experiência em pesca e explica que o método é perigoso para o meio ambiente e para os próprios pescadores. Funciona assim: um compressor de ar é acoplado ao motor do barco. O ar produzido é levado para o pescador por meio de uma mangueira. Com isso, ele tem oxigênio e pode ir a uma profundidade de 40 metros.

Com apenas um arpão na mão e uma mangueira de ar entre os dentes, os pescadores se arriscam em altas profundidades para capturar os animais que nem os anzóis nem as redes conseguem puxar para a superfície.

São espécies que praticamente já desapareceram das águas mais rasas por terem sido pescadas à exaustão nas últimas décadas. Por isso, o método é proibido no Brasil. Neste período, a fiscalização é maior devido ao defeso – proibição da pesca do robalo, robalo-branco e camurim -, que iniciou ontem e vai até 31 de julho.

Possível patrocínio

A pesca com compressão foi pensada para imitar a técnica de mergulhadores profissionais com um custo mais baixo. Ainda assim, requer um investimento considerável. Segundo Arivaldo Santana, o custo mínimo é de R$ 5 mil.

Por isso, os pescadores apontam que os trabalhadores que persistem no método, mesmo sendo proibido, geralmente contam com patrocínio privado. “Nós não temos condições de arcar com um custo deste, então as pessoas que podem pagar procuram os pescadores que mergulham para fazer a parte difícil”, revela um integrante da Colônia do Rio Vermelho, que preferiu não se identificar.

Para o presidente da Colônia de Itapuã, as autoridades precisam olhar para além dos pescadores que se arriscam para trabalhar. “Muitos ficam aleijados ou perdem os movimentos por causa da pressão do fundo do mar. O que precisamos é de oportunidade, conversar e apresentar propostas melhores para todos nós”, diz Arivaldo Santana.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil (PC-BA) para saber se possíveis patrocinadores da pesca com compressor de ar são investigados, mas, segundo a guarnição, para haver investigação é necessário que haja denúncia formalizada em alguma unidade policial. Nenhum dos pescadores ouvidos pelo CORREIO disse ter registrado uma ocorrência.

Também foi solicitado à PC o número de registros de pesca ilegal e pesca ilegal com compressor de ar em 2022 e 2023, mas a reportagem foi informada de que é necessário um prazo de cinco dias para o envio dos dados.

Fonte:CORREIO

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *