Desperdício de água aumenta pelo sexto ano seguido no Brasil; volume perdido em vazamentos abasteceria 30% dos brasileiros por um ano, diz estudo

desperdício de água potável aumentou no Brasil pelo sexto ano seguido, apontam dados do Instituto Trata Brasil divulgados nesta segunda-feira e analisados pelo g1. Os dados apontam que, em 2015, 36,7% da água potável produzida no país foi perdida durante a distribuição. Já em 2021, o ano mais recente com os dados disponibilizados, o índice atingiu 40,3%.

Isso significa que, a cada 100 litros de água captada da natureza e tratada para se tornar potável, quase 40 litros se perdem por conta de vazamento nas redes, fraudes, “gatos”, erros de leitura dos hidrômetros e outros problemas

Em 2021, 7,3 bilhões de metros cúbicos de água foram captados da natureza e foram tratados, mas acabaram não sendo faturados pelas empresas do setor por conta dos problemas citados acima. Esse volume equivale a:

  • Quase oito mil piscinas olímpicas de água tratada desperdiçadas diariamente;
  • Mais de sete vezes o volume do Sistema Cantareira, o maior conjunto de reservatórios do estado de São Paulo.

Desse total, 3,8 bilhões de m³ foram desperdiçados por meio de vazamentos (que podem ser visíveis, como canos estourados na rua, ou ocultos, por meio de perdas subterrâneas, nos encanamentos).

  • Essa quantidade de água seria suficiente para abastecer 67 milhões de brasileiros em um ano (ou pouco mais de 30% da população do país em 2021).
  • Esse número de pessoas é cerca de duas vezes mais alto que o total de pessoas que vive sem acesso à água potável no país, 33 milhões.
  • Ou seja, a redução das perdas de água implicaria na disponibilidade de mais recurso hídrico para a população que não tem acesso a esse serviço hoje, sem a necessidade de aumentar a captação de água na natureza.

“As perdas trazem diversos impactos negativos. Você capta água da natureza, torna ela potável, usa produtos químicos e bombeia até as pessoas. Quando você perde muita agua, acaba não abastecendo a população. Para tentar suprir isso, acaba captando mais água. Esse é o custo ambiental de altos indicadores de perda”, diz André Machado, do Trata Brasil.

Machado também destaca que esse desperdício quer dizer ainda perdas financeiras para as empresas do setor, já que elas têm o custo de captar e tratar a água, mas acabam não recebendo pelo volume perdido. “Isso não precisaria acontecer se o serviço fosse feito com eficiência e se a água estivesse alcançando o seu destino final, que é a população.”

Longe da meta e piorando

Mesmo sem zerar as perdas, os benefícios já poderiam ser sentidos pela população com a diminuição gradual do desperdício. Uma portaria de 2021 do governo federal estabelece como meta para o ano de 2034 a 25% para este indicador.

Caso o indicador de perdas de água caísse do atual patamar de quase 41% para os 25% previstos pela portaria, 25,7 milhões de brasileiros que não têm acesso à água potável hoje poderiam passar a usufruir deste direito.

que os dados dos últimos anos mostram, porém, é que o país não está avançando para alcançar esta meta, já que 2021 foi o sexto ano seguido de piora do indicador de perda na distribuição (como é possível ver no gráfico no início desta reportagem).

“É um problema sistêmico. Há poucos recursos investido na área. Por isso, e como ainda são 33 milhões de brasileiros sem acesso à água potável, o operador acaba priorizando a ampliação da rede, ou a ampliação da rede de coleta de esgoto, e acaba não investindo tanto para diminuir as perda”, diz Machado.

Região Norte perde metade da água que produz

Esta situação é ainda mais grave em alguns locais do país, como no Norte — que, historicamente, sempre teve poucos investimentos em saneamento e, consequentemente, os piores indicadores do setor no país, como é possível ver no gráfico abaixo.

Importante dizer que o indicador caiu de 55,1% em 2017 para os atuais 51,2% no Norte do país, mas ainda continua muito elevado, já que a região perde mais da metade da água que é captada e tratada por conta de vazamentos e fraudes.

Não por acaso, os quatro estados com mais desperdício do país estão no Norte: Amapá, Acre, Roraima e Rondônia (veja o ranking completo mais abaixo).

Já no Sudeste, o índice é mais baixo que o Norte (38%), mas está subindo: em 2017, era de 34,4%. Como esta é a região mais populosa do país, a alta regional acaba pressionando consideravelmente o indicador nacional para cima.

Já os estados do Nordeste, a segunda região com mais perdas, seguem estáveis: o indicador passou de 46,3% em 2017 para 46,2%.

Veja o ranking do desperdício por estado:

  1. Amapá: 74,8% da água produzida é perdida
  2. Acre: 74,4%
  3. Roraima: 64%
  4. Rondônia: 61,4%
  5. Maranhão: 59,2%
  6. Amazonas: 53%
  7. Rio Grande do Norte: 52,2%
  8. Mato Grosso: 48,4%
  9. Sergipe: 48,4%
  10. Alagoas: 47%
  11. Pernambuco: 46%
  12. Piauí: 45,3%
  13. Ceará: 45,2%
  14. Rio de Janeiro: 45%
  15. Rio Grande do Sul: 42%
  16. Bahia: 39,7%
  17. Espírito Santo: 38,8%
  18. Minas Gerais: 37,5%
  19. Pará: 37,4%
  20. Tocantins: 35,5%
  21. Paraíba: 35,4%
  22. Distrito Federal: 35,1%
  23. São Paulo: 34,5%
  24. Santa Catarina: 34,1%
  25. Paraná: 33,8%
  26. Mato Grosso do Sul: 33,4%
  27. Goiás: 28,5%

Como diminuir as perdas?

Para conseguir melhorar os indicadores, Machado afirma que são necessárias uma série de ações:

  • Priorização: “O assunto tem que ser colocado na agenda pública dos governantes e das operadoras. A partir disso, os investimentos para diminuir o desperdício começam a chegar.”
  • Fiscalização: “Precisa ter uma fiscalização mais ativa para identificar onde estão os furtos e para combatê-los.”
  • Conscientização: “É precisar fazer companhas de conscientização da população, para que as pessoas entendem a importância de não desperdiçar e possam também fiscalizar, identificar e denunciar fraudes.”
  • Investimento: “A malha de abastecimento das cidades precisa ser setorizada. (…) Dessa forma, é possível ter uma noção mais apurada da água que está circulando e sendo consumida, vem como ter mais eficiência em saber onde estão os vazamentos. Também é importante investir em novas tecnologias, como chips e medidores.”

Fonte:g1

 

 

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