Em ano de recorde no turismo, Carnaval traz preocupações com superlotação

 

 

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 30 de janeiro de 2025

A tradição do Carnaval como festejo popular nos países cristãos já dizia: período de exageros e zombaria. Claro, nos primórdios da festa ninguém sequer poderia imaginar o que ela se tornaria em Salvador, mas, coincidência ou não, exageros e zombaria definem perfeitamente a folia soteropolitana. Exagero nas cifras, na duração, mas principalmente no tamanho e na superlotação. E zombaria na fartura esfregada na cara da precariedade de categoria como a dos cordeiros.

Na corda do caranguejo

No ano passado, em apenas um dia, três milhões de pessoas estavam distribuídas pelos cinco circuitos oficiais da festa. É mais do que a população inteira da capital. A cena do trio de Ivete Sangalo tombando em cima da multidão por conta da quantidade de pessoas que se apoiavam em um mesmo lado do veículo marcou tanto quanto o “apocalipse de Baby do Brasil” e trouxe de volta uma questão: é linda essa festa faraônica, mas também é preocupante.

Trios elétricos lotados, varandas e marquises cheias de familiares, blocos, morros e calçadas onde não se enxerga nem de perto o chão, e ambulantes por todo lado – agora sobre uma plataforma para aliviar o espaço do folião. Tudo parece estar sob a normalidade, até de repente não estar. Os próprios camarotes caseiros, em apartamentos no circuito, já são motivo de preocupação para entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia. O presidente do conselho, Joseval Carqueja, já deixa o alerta: essas estruturas não foram feitas para esse tipo de aglomeração e vibrações intensas.

Trio pela metade

Neste ano, a Prefeitura reduziu o número de trios elétricos no circuito Barra-Ondina. A decisão aconteceu pela perda de um estacionamento no bairro da Graça, mas, ao menos, vai cortar de 50 para 26 equipamentos. A medida auxilia o Ministério Público da Bahia, que quer regular o número de pessoas sobre os trios para que uma tragédia aconteça.

Para quem vê de perto, como os moradores da Barra, a tragédia já é anunciada. Por isso, muitos defendem com unhas e dentes a criação de um outro circuito na região da Boca do Rio, para “desestrangular” o circuito Dodô. Mas não é só ele. Por conta da superlotação em 2024, a Secretaria de Segurança Pública chegou a fechar o acesso durante o encontro de trios na Praça Castro Alves, no primeiro dia da festa. A decisão se repetiu na Barra no sábado e também no Batatinha, na terça-feira. Quem curte a agonia que se prepare: o Carnaval está em uma corda ainda mais bamba. Afinal, se no ano passado já foi assim, o que deve acontecer neste verão que já vem batendo recorde atrás de recorde no turismo e nas festas?

Exagero de desigualdade

Nessa brincadeira de exageros, só quem não ganha são categorias como os cordeiros, que depois de muita luta conseguiram um reajuste de R$ 20 na diária de Carnaval. O Termo de Ajustamento de Conduta com os blocos, aguardado depois de tanta discussão, foi finalmente redigido e traz retrocessos em relação ao primeiro documento sobre as condições de trabalho da categoria, o Estatuto das Festas Populares, de 2009,. Se antes, os empresários deveriam oferecer 3 litros de água, agora serão apenas 2 litros, se tênis era responsabilidade dos donos de blocos, agora é obrigação dos cordeiros. E as principais reivindicações foram deixadas para, quem sabe, no ano que vem. É realmente muito exagero e zombaria.

Fonte METRO1

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